Segundo especialista, é essencial a adoção de medidas robustas para mitigar riscos e preservar a integridade das operações

Manuela Cotulio, especialista em adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para o agronegócio

A digitalização revolucionou o agronegócio. Máquinas autônomas, sensores conectados, inteligência artificial e análise de dados agora fazem parte da rotina do setor. No entanto, essa modernização trouxe desafios igualmente significativos, entre eles, a necessidade de garantir a proteção de dados e a segurança da informação. Enquanto o setor investe em inovação para aumentar a produtividade, criminosos também evoluem suas táticas, tornando essencial a adoção de medidas robustas para mitigar riscos e preservar a integridade das operações.

Casos como o ataque a uma grande indústria do setor de alimentos em 2021, no qual um resgate de US$ 11 milhões foi pago após a paralisação de operações em três países, ilustram como a ausência de uma governança estruturada pode resultar em impactos econômicos e reputacionais severos. Além disso, dispositivos conectados têm sido alvo de ataques de negação de serviço (DDoS), que sobrecarregam redes e paralisam equipamentos essenciais no campo, afetando diretamente a produção agrícola.

Para Manuela Cotulio, especialista no tema, a resposta a essas ameaças está na implementação de um programa robusto de governança em privacidade e proteção de dados. "A proteção de dados não se limita à conformidade com a LGPD. Ela une jurídico, tecnologia e processos, criando controles robustos que protegem informações, fortalecem os processos internos e garantem uma operação mais segura e eficiente", afirma. Esses programas devem incluir elementos fundamentais, como um orçamento dedicado, um organograma claro que defina responsabilidades, e a criação de um inventário de dados. A adoção de frameworks reconhecidos, como ISO 27001 e NIST, bem como a definição de processos internos e políticas, também são indispensáveis.

Além disso, ela destaca que o treinamento contínuo dos colaboradores é essencial para prevenir e responder a incidentes cibernéticos. "Capacitação é indispensável. Não basta ter tecnologias avançadas; os colaboradores precisam estar preparados para reconhecer e evitar riscos, como ataques de phishing", ressalta. Auditorias regulares e monitoramento contínuo completam as boas práticas necessárias para garantir a eficácia das medidas implementadas.

Outro fator importante é o impacto na concessão de crédito. "Os bancos estão cada vez mais atentos à governança de dados. Já enviam formulários para avaliar o nível de segurança e conformidade antes de liberar crédito. Empresas que demonstram maturidade nesses aspectos têm acesso a condições financeiras mais vantajosas, o que pode fazer toda a diferença em um mercado tão exigente", destaca Manuela. Além da redução de riscos financeiros e operacionais, a transparência no tratamento de dados fortalece a confiança dos stakeholders, abre portas no mercado internacional e melhora a reputação da empresa em um ambiente cada vez mais exigente.

No agronegócio, dados são ativos valiosos. Quem entender isso agora sairá na frente. Empresas que investem em proteção de dados e segurança da informação não apenas mitigam riscos, mas garantem eficiência, credibilidade e sustentabilidade em um setor estratégico para a economia global. "O futuro do agro passa pela tecnologia, mas sem proteção, o avanço pode se transformar em risco. É hora de agir", conclui Manuela.