Desafios da logística brasileira: preço do combustível e o custo do frete
Postado por Fabio Sas, Sócio e Diretor de Comercial da Linear Softwares Matemáticos em 29/11/2024 em ArtigosExecutivo fala sobre a implementação de tecnologias para contornar desafios impostos pelo preço dos combustíveis e frete
Fabio Sas, Sócio e Diretor de Comercial da Linear Softwares Matemáticos
Os preços do diesel aumentaram quase quatro vezes mais que a inflação nos últimos 12 meses. Apesar de apresentar uma tendência de estabilidade em 2024, o valor médio do combustível aumentou cerca de 74% em cinco anos. Para o setor de logística, que depende fortemente do óleo para o transporte de cargas, essas variações têm um impacto direto nos custos operacionais.
De acordo com levantamento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), 81,5% dos entrevistados citaram o combustível como o custo operacional de maior impacto nos gastos da empresa. Ainda de acordo com a pesquisa, as maiores dificuldades enfrentadas pelas companhias do segmento de transporte rodoviário de cargas são o preço do diesel (82,3%), seguido pela carga tributária (56,5%) e a dificuldade de reajustar o valor do frete (40,1%).
Confira como o aumento do preço do combustível influencia o custo do frete, os desafios enfrentados pelas empresas e as soluções tecnológicas que podem ajudar a mitigar esses efeitos.
País continental com transporte rodoviário
Segundo o levantamento da Fundação Dom Cabral, 62,2% do transporte de cargas no Brasil é realizado por meio de rodovias, sendo o setor de Alimentos e Bebidas o que mais movimenta este modal, com 91,4% do volume transportado da categoria realizado dessa maneira. Caso não aconteçam investimentos em infraestrutura, a projeção para 2035 é de que o transporte por estradas esteja ainda mais sobrecarregado, respondendo por 63,7% de toda a movimentação de cargas no país.
Os dados apontam a dependência significativa do Brasil pelo transporte rodoviário para a movimentação de mercadorias, mesmo sendo um país de dimensões continentais. Com uma malha rodoviária extensa, o modal tornou-se o meio mais utilizado devido à sua flexibilidade e capacidade de alcançar praticamente todas as regiões do país.
A predominância das rodovias no transporte de cargas evidencia a falta de alternativas logísticas, como o transporte ferroviário e hidroviário, que são menos custosos em termos de combustível e mais eficientes para longas distâncias e cargas de grande volume. Além de tornar as empresas vulneráveis às flutuações nos preços dos combustíveis, essa concentração também faz com que as companhias sejam afetadas pelas condições das estradas, que muitas vezes são inadequadas, aumentando os custos de manutenção dos veículos e o tempo de viagem.
Efeitos negativos em toda a cadeia
O aumento no preço do diesel eleva diretamente os custos operacionais das empresas de transporte, que, por sua vez, repassam esses aumentos aos clientes na forma de fretes mais caros. Essa situação cria uma pressão sobre as margens de lucro, especialmente em um mercado altamente competitivo, onde as companhias que não conseguem repassar os custos adicionais enfrentam riscos financeiros.
Além do impacto monetário direto, o aumento no preço do diesel também afeta a previsibilidade e o planejamento estratégico das transportadoras. A volatilidade dificulta o planejamento orçamentário a longo prazo e obriga as empresas a adotarem uma postura reativa, constantemente ajustando suas operações para lidar com os custos variáveis do combustível.
Entretanto, a alta nos preços do frete não afeta apenas as companhias de transporte, mas toda a cadeia de suprimentos. O aumento dos custos de transporte resulta em preços mais elevados para os insumos e produtos acabados, impactando desde os fabricantes até os varejistas. Esse encarecimento acaba sendo repassado ao consumidor final, que pode sofrer com a diminuição do poder de compra.
Soluções tecnológicas
De acordo com a Pesquisa Tendências para Gestão de Frotas e Logística 2024, da empresa Trimble, 74,8% das empresas esperam investir em tecnologias para gestão de frotas e logística, com o setor de softwares representando 57,6% do total. Os respondentes possuem metas focadas em inovação tecnológica, visando otimizar fluxos e integrar a gestão de frotas. Além disso, buscam melhorar a eficiência e a produtividade, reduzindo custos e manutenções, para aumentar a competitividade das operações e atender às demandas do mercado.
A implementação de tecnologias está se tornando uma prioridade para as empresas que buscam contornar os desafios impostos pelo preço dos combustíveis. O uso de softwares focados na otimização de certos processos logísticos, como a gestão de rotas e o monitoramento de veículos, permite reduzir significativamente o consumo de combustível.
Outro exemplo são softwares para o planejamento diário de distribuição primária de produtos finais. Esse tipo de solução permite um maior controle e assertividade no programa de distribuição, reduzindo custos de frete e impostos, resultando em uma diminuição direta nos custos operacionais. Além disso, soluções que otimizem toda a cadeia de suprimentos estão sendo aplicadas para otimizar processos e aumentar a eficiência, evitando desperdícios de insumos, produtos e, consequentemente, recursos.
Adicionalmente, o investimento em tecnologias sustentáveis, como veículos híbridos ou elétricos, está começando a ganhar espaço como uma forma de reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Embora o custo inicial possa ser mais alto, os benefícios a longo prazo, como menor consumo de combustível e de emissões de poluentes, são fatores atrativos para empresas que buscam não apenas cortar custos, mas também atender às crescentes demandas por práticas ambientalmente responsáveis.
Futuro da logística brasileira
Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 38% das indústrias trocariam o frete rodoviário por outro tipo de transporte, com 28,5% delas optando por transferir a operação para ferrovias caso houvessem condições de infraestrutura adequadas para o escoamento de produtos.
Para aliviar a pressão sobre o transporte rodoviário e mitigar os impactos dos altos custos com combustíveis, é fundamental investir em outros modais de transporte, como ferroviário e hidroviário. Além de ajudar a reduzir os custos operacionais e a dependência do diesel, essa diversificação pode melhorar a logística integrada, diminuir o tráfego nas rodovias e contribuir para a redução das emissões de gases poluentes.
Porém, enquanto os investimentos na malha logística brasileira não avançam, a inovação tecnológica se apresenta como a principal aliada das empresas para superar os desafios impostos pelo aumento do preço dos combustíveis. Dessa maneira, as empresas que investem em novas tecnologias não só conseguem minimizar os custos operacionais, mas também se preparar para enfrentar futuros desafios no transporte de cargas.