Instituições financeiras adotam tecnologias para monitorar as emissões de carbono do agronegócio
Postado por Redação em 14/10/2024 em NotíciasSoluções combinam inteligência artificial e sensoriamento remoto para monitorar impactos ambientais no agronegócio
Engenheira ambiental e sócia da Climate Tech Vankka, Clarissa de Souza. Foto: Maira Karas
Com o avanço da sustentabilidade no setor agropecuário, bancos e instituições financeiras têm adotado novas tecnologias para monitorar as emissões de carbono geradas por atividades que financiam. Ferramentas como o Vankka Carbon Score e o Foresight estão transformando a forma como o impacto ambiental do agronegócio é medido, oferecendo soluções que combinam inteligência artificial e sensoriamento remoto.
A engenheira ambiental e sócia da Climate Tech Vankka, Clarissa M. de Souza explica que é importante que os bancos contem com ferramentas que ajudem a mensurar as emissões financiadas e a monitorar risco de desmatamento, como o Vankka Carbon Score e o Foresight. “O Vankka Carbon Score permite às instituições financeiras calcular e acompanhar as emissões de carbono associadas a seus investimentos, promovendo uma análise detalhada das pegadas de carbono das empresas financiadas. Esse monitoramento contínuo possibilita que os bancos alinhem suas carteiras de crédito e investimento com metas de sustentabilidade, facilitando a conformidade com padrões regulatórios de emissões de carbono e a transição para uma economia de baixo carbono”, ressalta.
Sobre o Foresight, a engenheira afirma que ele é um sistema de avaliação de riscos para investimentos verdes, que utiliza inteligência artificial combinada com sensoriamento remoto para identificar e monitorar riscos associados ao desmatamento e outros impactos ambientais. “A ferramenta simula diferentes cenários de risco, permitindo que os bancos visualizem padrões locais e regionais de ameaça, oferecendo uma análise personalizada com diferentes resoluções espaciais e temporais. Essa capacidade flexível permite aos bancos identificar áreas de risco elevado, proteger seus investimentos e contribuir para a preservação ambiental, promovendo decisões financeiras mais sustentáveis e responsáveis”, explica.
As emissões de carbono financiadas referem-se aos gases de efeito estufa (GEE) liberados por atividades que recebem apoio financeiro de bancos e outras instituições, como empréstimos, investimentos e financiamentos. Essas emissões, apesar de serem geradas por terceiros — no caso, os clientes do setor financeiro —, são indiretamente atribuídas às instituições financeiras que fornecem recursos para a realização dessas atividades. Segundo a pesquisa desenvolvida pela WayCarbon em parceria com o Banco Santander, no contexto da agropecuária, setor responsável por aproximadamente 24% das emissões totais de GEE no Brasil, as emissões financiadas têm um papel fundamental.
Segundo a engenheira, a agropecuária brasileira é reconhecida como uma das principais responsáveis pela emissão de carbono no país, com o desmatamento vinculado à expansão das fronteiras agrícolas sendo uma das suas maiores fontes de emissões. “Estima-se que quase a metade das emissões totais de GEE no Brasil em 2021, sejam provenientes do desmatamento, enquanto o manejo agropecuário e as mudanças no uso da terra compõem uma parcela significativa das emissões indiretas financiadas por instituições financeiras. Nesse cenário, bancos que financiam o setor agrícola acabam participando, indiretamente, dessas emissões, o que traz um desafio adicional para suas metas de sustentabilidade”, afirma.
Clarissa explica que um dos principais desafios para bancos que buscam neutralizar suas emissões financiadas é a complexidade da cadeia de valor do agronegócio. “Dependendo do tipo de commodity agrícola, das práticas de manejo adotadas e da localização geográfica, as emissões podem variar significativamente. Portanto, o desenvolvimento de metodologias personalizadas para mensurar as emissões de carbono se torna essencial”, complementa.
A executiva finaliza reforçando que à medida que mais bancos adotam a mensuração das emissões de carbono financiadas, o setor financeiro se coloca como um agente-chave para a mitigação dos impactos climáticos globais. “No Brasil, com a relevância do agronegócio na economia, é essencial que as instituições financeiras integrem a sustentabilidade em suas práticas de concessão de crédito, especialmente em um setor tão emissor como o agropecuário. A adoção de práticas sustentáveis, tanto por produtores quanto por bancos, tem o potencial de transformar o setor, promovendo não só a proteção ambiental, mas também uma economia de baixo carbono capaz de competir nos mercados internacionais e de garantir a segurança alimentar e climática nas próximas décadas”, diz.