Pará abre caminho para rastreabilidade avançar na pecuária brasileira
Postado por Ana Doralina e Lisandro Inakake, Presidente e VP da MBPS em 18/12/2025 em ArtigosAutores defendem a rastreabilidade como base para inclusão produtiva e competitividade da pecuária
Lisandro Inakake de Souza e Ana Doralina Menezes, respectivamente vice-presidente e presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável
A rastreabilidade tem se consolidado como um dos principais temas estratégicos para o futuro da pecuária brasileira. Em um cenário de crescente exigência por transparência, conformidade socioambiental e origem comprovada, o setor é chamado a avançar para modelos mais organizados, produtivos e integrados. Nesse contexto, iniciativas que conectam políticas públicas, mercado e inclusão produtiva tornam-se fundamentais para garantir competitividade e desenvolvimento sustentável.
Na região amazônica, tendo o Pará como foco, desafios assumem contornos ainda mais complexos. Baixa produtividade, insegurança fundiária e dificuldades de acesso ao crédito criam um cenário que limita investimentos e mantém parte significativa dos produtores fora dos mercados formais. Esse contexto reforça a necessidade de soluções estruturantes, capazes de integrar desenvolvimento produtivo e responsabilidade socioambiental.
A exclusão produtiva, em muitos casos, não decorre da falta de interesse dos pecuaristas, mas da ausência de políticas integradas e adaptadas à realidade local. Exigências legais relacionadas ao meio ambiente, à regularização fundiária e à rastreabilidade são fundamentais, porém se tornam barreiras quando não vêm acompanhadas de apoio técnico, financeiro e institucional.
Para que a pecuária avance de forma sustentável, é essencial recolocar o produtor no centro das estratégias. A inclusão produtiva, aliada ao aumento da produtividade, eficiência e à melhoria da gestão, é condição indispensável para a consolidação de práticas responsáveis. O produtor desempenha papel decisivo no uso do solo, na adoção de boas práticas e na conservação da vegetação nativa.
Esse avanço depende de uma atuação coordenada entre os diferentes elos da cadeia pecuária. Governos, produtores, frigoríficos, varejo e instituições financeiras precisam atuar de forma articulada, com responsabilidades claras e complementares. A coordenação reduz assimetrias, amplia a eficiência e fortalece a resiliência econômica e ambiental do setor.
O poder público tem papel central na criação de um ambiente regulatório estável e previsível. A estruturação de um sistema robusto de rastreabilidade, a efetiva implementação do Código Florestal, a validação do Cadastro Ambiental Rural, a aceleração do Programa de Regularização Ambiental e o estímulo a instrumentos financeiros sustentáveis são fundamentais para reduzir a insegurança jurídica e viabilizar investimentos no campo.
A cadeia da pecuária, por sua vez, é responsável por conectar a produção à demanda. Compromissos de conformidade socioambiental, instrumentos financeiros verdes, apoio a difusão de tecnologias para aumento da produção, à recuperação de pastagens degradadas e adoção de critérios de rastreabilidade criam incentivos concretos para práticas mais sustentáveis. Essas ações contribuem para o aumento da produtividade e para a redução de riscos socioambientais.
Nesse arranjo, os frigoríficos ocupam posição estratégica. São o elo entre produtores e compradores, de maneira que suas escolhas de compra e venda têm potencial para induzir mudanças positivas na cadeia. De um lado, podem fazer isso qualificando a informação sobre a carne que fornecem ao mundo; de outro, apoiando a regularização e o adoção de boas práticas pelos seus fornecedores. Assim, passam a exercer um papel ativa na transição sustentável da cadeia.
A rastreabilidade se insere como ferramenta que conecta sanidade, ambiente e produção. Ao permitir o acompanhamento dos animais ao longo de sua trajetória produtiva, fortalece o controle sanitário, o monitoramento territorial e a comprovação de origem. Isso amplia o acesso a mercados mais exigentes e contribui para uma governança mais robusta.
Para ampliar a adesão dos produtores, mecanismos de incentivo econômico são fundamentais. Instrumentos de remuneração diferenciada, pagamentos por serviços ambientais e benefícios associados à rastreabilidade transformam a conformidade em oportunidade. Quando bem estruturados, esses incentivos alcançam toda a cadeia, do produtor de cria ao de engorda.
Outro ponto essencial é garantir que a implementação da rastreabilidade não resulte em exclusão produtiva. Abordagens graduais, orientadas à regularização, permitem que produtores em situação de inconformidade tenham acesso à informação, assistência técnica e caminhos claros para se adequar, fortalecendo a cadeia formal como um todo.
O uso integrado de dados também se mostra estratégico. Plataformas que reúnem informações produtivas, sanitárias e socioambientais reduzem custos de transação, ampliam a transparência e permitem direcionar ações de assistência técnica e regularização de forma mais eficiente. A informação passa a ser um ativo para o desenvolvimento territorial.
Por fim, é fundamental reconhecer que a rastreabilidade só gera valor quando associada ao fortalecimento da base produtiva. Investimentos em eficiência, recuperação de pastagens e gestão são condições essenciais para que a rastreabilidade contribua para ganhos reais de produtividade, renda e sustentabilidade.
É nesse contexto que a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável apresenta o estudo “Incentivos à rastreabilidade na pecuária do Pará”, reunindo diagnósticos e propostas para transformar a rastreabilidade em uma infraestrutura estratégica de inclusão produtiva, redução de riscos e fortalecimento da competitividade da pecuária, com impactos que ultrapassam as fronteiras do estado e contribuem para o desenvolvimento do setor no Brasil.








