Do carbono à consciência: o legado da transição energética para 2026 e além
Postado por Hugo Bethlem, Presidente do Capitalismo Consciente Brasil em 26/11/2025 em ArtigosAutor traz a visão de que a transição energética só se completa quando conecta inovação, energia limpa e impacto social
Hugo Bethlem, Presidente do Capitalismo Consciente Brasil
A transição energética deixou de ser apenas uma resposta à crise climática para se tornar uma exigência estratégica de competitividade. À medida que avançamos para 2026, cresce a percepção de que empresas que integram energia limpa, inovação e impacto social terão mais força para prosperar em um mercado cada vez mais atento à coerência entre discurso e prática. A mudança, porém, não acontece apenas na matriz energética, acontece sobretudo, na mentalidade.
Investimentos crescentes em energia solar e eólica mostram que o setor privado já compreendeu a urgência da descarbonização. No entanto, a verdadeira transformação só ocorre quando essa mudança tecnológica está alinhada a uma mudança cultural. A pergunta que passa a definir o futuro dos negócios é: qual é o legado social e econômico que a transição energética deixará?
Uma pesquisa recente realizada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), mostra como essa transformação já está em curso. Em 2024, por exemplo, 48% das empresas (quase metade das indústrias brasileiras), declararam investir em energia limpa, um avanço expressivo em comparação ao ano anterior. É um movimento no qual confirma aquilo que temos observado na prática: as empresas estão percebendo que adotar energia hídrica, eólica, solar, biomassa ou até hidrogênio de baixo carbono não é mais tendência, mas necessidade estratégica. O salto de 34% em 2023, para 48% em 2024, apontado pela pesquisa da CNI, revela não apenas a urgência climática, mas também a maturidade crescente do setor produtivo em relação à transição energética.
Esse movimento não está restrito às intenções, ele já se traduz em números expressivos. A energia solar, por exemplo, segue como um dos motores dessa transformação. Em 2024, o setor movimentou cerca de R$54 bilhões em novos investimentos no Brasil, segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). É um volume que evidencia como as renováveis deixaram de ser um tema de futuro para se tornar um vetor econômico real, capaz de impulsionar cadeias produtivas, gerar empregos e acelerar a modernização da matriz energética brasileira.
Migrar para fontes mais limpas é importante, mas insuficiente. A transição energética precisa ser capaz de fortalecer comunidades, gerar empregos de qualidade, qualificar trabalhadores e criar novas oportunidades em regiões que historicamente ficaram à margem das decisões corporativas. O capitalismo consciente traz essa visão ampliada: energia renovável não deve apenas reduzir emissões, mas contribuir para um desenvolvimento mais justo.
Em 2026, será cada vez mais evidente que consumidores, investidores e a sociedade em geral exigem provas concretas de impacto. Não basta anunciar metas, é preciso demonstrar resultados. Programas de formação para trabalhadores, inclusão de fornecedores locais na cadeia energética e parcerias com comunidades serão os fatores que diferenciam quem está apenas se adaptando de quem está liderando.
A inovação também passa por esse processo. Tecnologias de armazenamento, eficiência e microgeração são cruciais, mas a inovação mais transformadora será a que aproxima propósito e resultado. Negócios que integram energia limpa a práticas éticas, transparentes e socialmente responsáveis constroem reputação, atraem talentos e se posicionam de forma mais consistente para o futuro.
No ano de 2026, o setor de energia entra em uma fase decisiva. A competição entre empresas não será pautada apenas pela velocidade de adoção das renováveis, mas pela capacidade de transformar essa transição em valor compartilhado. A expansão da geração solar, a consolidação dos parques eólicos e o avanço de novos modelos de produção e consumo exigem que organizações façam escolhas maduras, transparentes e responsáveis.
A agenda ESG também passa por esse crivo. Projetos que não conectam eficiência energética, inclusão produtiva, governança e impacto territorial já começam a perder espaço. O mercado observa com lupa como cada empresa integra sua estratégia energética à estratégia de negócio — e, sobretudo, como essa integração beneficia o entorno.
O legado que construiremos agora definirá o posicionamento das empresas nos próximos anos. A transição energética não é apenas técnica; é estratégica. Não é apenas ambiental; é social. E, acima de tudo, não é um desafio isolado de um setor, mas uma oportunidade de reorientar o desenvolvimento econômico para um modelo mais ético, competitivo e consciente.









