Autor destaca como o big data permite a análise de volumes elevados de dados e apoiar decisões no agronegócio

Odirley Silva, Gerente de Produtos da CXP Brasil

O posto do Brasil como um dos principais celeiro do mundo traz consigo responsabilidade de conciliar expansão de produtividade com uma gestão eficiente de recursos naturais e financeiros. Essa necessidade tem estimulado empresas agropecuárias brasileiras a buscarem estratégias capazes de sustentar o crescimento do setor e é nesse cenário que a tecnologia no campo ganha relevância. Entre as ferramentas disponíveis, o big data, particularmente, ganha destaque ao permite a análise de volumes elevados de dados e apoiar decisões que impactam diretamente a eficiência e a competitividade do agronegócio.

Em 2024, o agro brasileiro foi responsável por 48,8% de todas as exportações do país, movimentando US$ 164,37 bilhões, o segundo maior valor da série histórica, de acordo com o Ministério da Agricultura. Esses dados são indicativos do protagonismo dessa atividade tanto para a economia nacional quanto para o abastecimento mundial de alimentos.

Entretanto, o avanço constante da demanda por produtos agropecuários, tanto no mercado interno quanto no cenário internacional, tem imposto ao agronegócio brasileiro a necessidade de elevar a produtividade de maneira sustentável. Nesse esforço, práticas como a mecanização e a agricultura de precisão são exemplos de estratégias que ganharam popularidade na rotina das propriedades rurais, mas que alcançam resultados ainda mais expressivos quando integradas a soluções de big data, que permitam transformar dados operacionais em inteligência aplicada à gestão e à tomada de decisão.

De acordo com a pesquisa “A mente do agricultor brasileiro”, realizada pela McKinsey, a presença de tecnologia no campo tem avançado de maneira consistente. A proporção de produtores que declaram adotar soluções digitais passou de 42% em 2022 para 55% em 2024.

A relevância do big data para a evolução da tecnologia no campo

No agronegócio, o big data corresponde à capacidade de coletar, integrar e processar grandes volumes de dados relacionados às atividades produtivas. Esse conjunto de informações abrange desde a manutenção do maquinário e o cálculo de insumos, até o planejamento de irrigação e a aplicação de defensivos, compondo uma base sólida para decisões mais precisas em cada etapa do ciclo agropecuário.

Para traçar um parâmetro da importância dessa iniciativa, a previsão para o mercado global de análise de dados de big data na área agrícola em 2025 é de US$ 1,09 bilhão, segundo relatório publicado pela Business Research Insights, com projeção de crescimento para US$ 1,97 bilhão em 2033.

Entretanto, a limitação de conectividade é uma barreira significativa para as empresas agropecuárias no Brasil. Dados do IBGE indicam que, em 2025, 52% dos imóveis rurais ainda não tem acesso às redes 4G e 5G. Esse número se reduz para 32%, quando considerada apenas a área destinada à produção agrícola.

Essa dificuldade de expandir a conectividade no campo decorre, sobretudo, da dimensão territorial do Brasil e da diversidade de terrenos, que tornam complexa a instalação de infraestrutura adequada. Esse cenário limita a captação e a transmissão de grandes volumes de informações em tempo real, condição essencial para a plena utilização de tecnologias digitais no agronegócio.

Além da conectividade, a ausência de padronização entre diferentes sistemas e os custos de implementação das soluções de big data também são considerados obstáculos relevantes para o avanço da tecnologia no campo. O impacto é ainda mais evidente para empresas de menor porte, que muitas vezes não dispõem de recursos financeiros suficientes para investir em novas ferramentas digitais, mesmo que os ganhos de eficiência no longo prazo justifiquem o esforço.

Nesse processo, existem mecanismos, como o Inovagro, um programa de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de apoio à modernização do campo. Além disso, a participação de consultorias especializadas também cumpre papel relevante, ao orientar empreendimentos agropecuários sobre como integrar ferramentas de big data, inteligência artificial e IoT na gestão produtiva e transformar dados em base efetiva para a tomada de decisões.

Entre os principais benefícios dessa transformação digital estão a análise preditiva e o monitoramento em tempo real, que se destacam pelo retorno sobre investimento (ROI) que oferecem. A partir dos insights gerados por essas ferramentas, é possível, por exemplo, determinar com maior precisão os melhores períodos para plantio, considerando fatores como o clima, o tipo de semente, adubação, irrigação, aplicação de defensivos agrícolas, de maneira a otimizar os recursos empregados na produção agropecuária e proporcionar o embasamento necessário para decisões assertivas.

Diante disto, para manter o protagonismo com relação à produção global de alimentos, o agronegócio brasileiro precisa acompanhar as tendências de tecnologia no campo, em especial o uso do big data. Com as ferramentas adequadas, e capazes de ampliar a base de informações disponíveis para análise, os players do setor agropecuário podem, além de modernizarem seus negócios, elevar a produtividade e, ao mesmo tempo, otimizar custos e recursos sem abrir mão da qualidade.