Sustentabilidade e alimentação global: ‘Não vejo como não usar IA’, diz especialista
Postado por Redação em 22/08/2024 em EntrevistaTemos discutido projetos com indústrias diretamente relacionadas ao agro e instituições que impactam o setor, conta especialista do SiDi
Michel Silvério, Especialista em Inteligência Competitiva do SiDi
O Portal Agro Summit conversou com Michel Silvério, Especialista em Inteligência Competitiva do SiDi, Instituto de Ciência e Desenvolvimento de Tecnologia, que realiza pesquisas e desenvolvimento de soluções tecnológicas, além de possuir expertise em Inteligência Artificial.
Silvério destacou a importância da IA na transformação do agronegócio, especialmente em relação à demanda por sustentabilidade e segurança alimentar global, e falou sobre como a infraestrutura do instituto está contribuindo com tecnologias voltadas para o setor.
"Se você pensar em sustentabilidade, em alimentar as pessoas no mundo, a utilização de IA é um caminho sem volta. Quem não utilizar IA ficará para trás. Não há como criar vantagem competitiva sem a adoção dessa tecnologia", compartilha o especialista, reforçando a visão de que a IA é essencial para o futuro do agronegócio e da sustentabilidade global.
Ele conta que a estratégia do SiDi inclui a priorização de soluções baseadas em IA, aproveitando a principal infraestrutura computacional da América Latina para esse fim. Com essa base, o instituto está capacitado para atuar em projetos de grande porte e colaborar com diversas instituições e setores.
No âmbito do agronegócio, a presença da IA está se tornando fundamental. Silvério, com uma formação em engenharia de produção agroindustrial e um histórico familiar ligado ao campo, tem liderado projetos que visam a integração de IA em várias áreas do setor.
Entre as iniciativas destacadas estão as discussões com institutos de pesquisas o uso de IA na melhoraria de modelos de previsões climáticas. A incorporação de IA aprimoraria a precisão das previsões, impactando a gestão de desastres climáticos e a produtividade agrícola.
"Atualmente, as previsões climáticas são baseadas em modelos matemáticos, que ainda não incorporaram inteligência artificial, o que resulta em previsões menos precisas para o agro e também para questões relacionadas a desastres climáticos, como o ocorrido no Rio Grande do Sul. Entendemos que esse tipo de iniciativa tem uma função direta no agro, pois possibilita melhorar questões como a mensuração de produtividade, afetando o setor financeiro, o setor de fábrica, a previsão de demandas e várias outras áreas", explica.
Cases no Agronegócio
O especialista mencionou um case específico de uma indústria sucroenergética que está utilizando IA para otimizar o processo de descarregamento de cana-de-açúcar.
A função da ferramenta é garantir que o descarregamento de matéria prima ocorra de forma segura. “O impacto dessa solução na produtividade é muito significativo, visto que um acidente pode inviabilizar horas de produtividade, impactando o processo como um todo”, conta.
Ainda no setor sucroenergético, o instituto está explorando a aplicação de IA para melhorar a eficiência do consumo de diesel, uma das principais despesas do setor devido a todo processo logístico envolvido no transporte da cana-de-açúcar, com explica o profissional: "O consumo mensal de diesel do setor sucroenergético representa milhões de litros de diesel. Qualquer redução de 5% ou 10% representam um impacto muito significativo na redução dos custos, tanto na questão de custos de operação como na questão de impacto ambiental.”
Outra iniciativa importante do SiDi é a estruturação de um novo centro de inteligência artificial para energias renováveis que foi aprovado pela Fapesp e envolve instituições como a UFRJ, o LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) o INRIA (Instituto de Pesquisa Científica da França), o BSC (Centro Nacional de Supercomputação da Espanha), universidades, além de empresas petrolíferas, que estão se envolvendo cada vez mais em projetos relacionados a energias renováveis.
Ele destaca que, este tipo de iniciativa pode impactar em questões como a produção de energias renováveis a partir da biomassa, que pode ter um impacto direto em setores como o sucroenergético, que aproveita resíduos do processo produtivo de açúcar e alcool para a produção de biometano.
A produção e utilização desse gás contribuem para a redução no consumo de combustíveis fósseis, nas emissões de carbono, permitindo que as companhias gerem novos possibilidades de fontes de receita envolvendo, por exemplo, combustíveis e créditos de carbono, que podem ser comercializados e são importantes mecanismos dentro das políticas climáticas internacionais para incentivar práticas sustentáveis e compensar emissões.
Lacuna na adoção de tecnologias por pequenos e médios produtores
O especialista também abordou a crescente adoção de tecnologias no agronegócio, notando que, embora as grandes empresas estejam sendo atendidas por agtechs e iniciativas de aceleração, ainda há uma lacuna na adoção de tecnologias por pequenos e médios produtores.
Em resposta, o instituto está desenvolvendo um projeto em parceria com a ABDI, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, focado na adoção e difusão de tecnologia 4.0 para o agronegócio no Nordeste.
Este projeto inclui a criação de um Hub que promova a cooperação entre podutores rurais, empresas, universidades, agentes governamentais, órgãos de fomento e centros de pesquisa e possibilite o aumento de produtividade e a sustentabilidade do agronegócio no Nordeste por meio da adoção e difusão de tecnologias 4.0.
“A ABDI procurou o SiDi para desenvolver esse projeto no Nordeste. A ideia é trabalharmos com tecnologias tais como Ciências de dados e Inteligência Artificial visão elevar a difusão e adoção de tecnologias 4.0 no agronegócio do nordeste. Acreditamos que o projeto do Hub ajudará a atender pequenos e médios produtores e compartilhar conhecimento, especialmente em relação a financiamento, tecnologia e agricultura familiar”, finaliza.